quinta-feira, 8 de setembro de 2011

São Bernardo






Síntese


Paulo Honório não sabia muito de seus pais nem de sua infância, lembrava-se apenas de Margarida que vendia doces, a quem agora ele sustentava. Até os 18 anos trabalhou na enxada, depois de um tempo, cansado da antiga vida, resolveu morar na sua terra natal, Alagoas, já com a intenção de apropriar-se de São Bernardo.


Quando o velho Padilha (dono das terras) morreu, Paulo criou laços de amizade com seu filho Luís, emprestando-lhe dinheiro e tendo como garantia as terras. Paulo acabou por tomar-lhe São Bernardo com escritura e tudo o mais.


Em uma de suas viagens a Maceió, encontrou um velho chamado Ribeiro, guarda-livros da Gazeta. Resolveu levá-lo para a fazenda. Durante todo o tempo superou todos os obstáculos com meios lícitos e ilícitos.


Tudo começou a funcionar como Paulo queria e ele se tornava cada vez mais importante e respeitado. Alguns o criticavam, alegando que desejava possuir o mundo todo.

Paulo Honório mandou construir uma estrada, uma escola e uma igreja. Recebeu visita até do Governador. Depois mandou chamar Luís Padilha para ser professor na escola.

Paulo desejava se casar, para ter um herdeiro para sua fazenda. Numa noite, foi visitar o juiz Dr. Magalhães com a desculpa de um processo que estava em suas mãos, mas na verdade tinha interesse na filha do magistrado, D. Marcela. Chegando à casa do juiz encontrou muita gente e, entre as pessoas, uma loirinha que o deixou impressionado, era Madalena, com a qual se casou mais tarde.


Madalena teve um menino. Completaram dois anos de casados. Daí por diante, Paulo começou a sentir ciúmes de sua esposa. Tinha uma certa desconfiança de todos os amigos. Observava o filho que nada tinha de parecido com ele. Ele só queria saber se sua esposa lhe era fiel. Se fosse, ele a faria a mulher mais feliz do mundo. A situação foi se agravando. Paulo Honório desconfiava até do padre e dos caboclos. Estava quase louco. À noite, ouvia passos e assobios que acreditava serem sinais. Não dormia. Madalena, nas conversas, mantinha-se serena. Só dizia que caso morresse de repente queria que dessem seus vestidos à família do Mestre Caetano e a Rosa; e os seus livros ao seu Ribeiro, Padilha e Gondim. Até que um dia se suicidou.

Enterram Madalena. Paulo mudou de quarto. D.Glória e Seu Ribeiro foram-se. Estourou a Revolução. Padilha e Padre Silvestre incorporam-se às tropas revolucionárias. O outro ano foi terrível. Tudo andava mal, mas Paulo parecia não se incomodar. Era um homem só. Viúvo há dois anos. Um homem acabado. Sem amor, sem dinheiro, sem nada, que resolve escrever um livro sobre sua vida.





A Obra





São Bernardo (lançado em 1934) é uma das obras mais expressivas da vertente regionalista do segundo modernismo brasileiro, voltado, na ficção, para o questionamento social e psicológico, para a realidade de uma sociedade primitiva, violenta, pré-capitalista. Narrado em primeira pessoa, Paulo Honório, após o suicídio de Madalena, solitário, decadente, põe-se a registrar a história de sua ascensão a dono da Fazenda São Bernardo, de sua tragédia conjugal e da aridez de sua vida afetiva. Como em Dom Casmurro, estão representados dois tempos: o tempo do enunciado (os eventos que ocorreram na vida de Paulo Honório) e o tempo da enunciação (o momento em que se escreve o livro)





São Bernardo é uma das mais convincentes análises do sentimento de propriedade, do sentido atávico da posse, do ter anulando o ser, do cancelamento ético e afetivo na luta pela vida. As personagens e as coisas surgem no romance como meras modalidades do narrador, Paulo Honório, filho de pais incógnitos, guia de cego que se elevou a grande fazendeiro, respeitado e temido, graças à tenacidade infatigável com que manobrou a vida, pisando escrúpulos e sentimentos e visando por todos os meios o alvo que declara desde o início: 'O meu fito na vida foi apossar-me das terras de São Bernardo, construir esta casa...'. Como pano de fundo, o coronelismo, a sociedade patriarcal do Nordeste e a Revolução de 1930 e seus desdobramentos, que ecoam também no sertão e golpeiam o combalido [mas não arrependido] Paulo Honório..





Graciliano Ramos





Ao contrário de outros romancistas de 30, Graciliano Ramos jamais teve qualquer nostalgia do universo em derrocada das velhas oligarquias rurais. Analisou a realidade de onde procedia com aspereza, mesmo sendo descendente, tanto pelo lado materno como pelo paterno, de senhores latifundiários. Isso se deve, provavelmente, à clareza de suas idéias. E também a experiências infantis frustrantes dentro da sociedade patriarcalista que aguçaram-lhe a sensibilidade para as misérias de um sistema injusto e apodrecido. Foi homem de esquerda, sem limitar-se a uma visão unilateral, foi moderno. Por isso, é tido como o melhor escritor de sua geração.